por Alexandre Ribeiro e Nayra Lays

 

Sankofa, essa que norteia nossas palavras, não só pode significar "volte e pegue", como também é o símbolo que voa sem esquecer o passado. Sankofa, essa que nomeia a coluna, foi-nos cervical para entender esse troço de ser nós. E é com calmaria no peito que vamos sendo no dia de hoje.

Pensar além do questionamento identitário e quebrar o local social. Ser melhor a cada dia e trilhar caminhos de liberdade. Florescer o plantio de nossos ancestrais. Atitudes essas que, a cada palavra semeada, nos entregaram o poder do conhecimento. Capazes de nos fazer entender que não inventamos a roda, mas que nossas ações podem reinventá-la.

A palavra encheu os olhos feito ribeira de vida. Escrever passou por descoberta e fez morada no ser. Nós escrevemos porque nos buscamos. Desde que aceitamos o convite para cocriar e alimentar uma coluna, no início de 2017 (como passa rápido!), precisamos conscientemente tomar a responsabilidade de reescrever o que tem sido escrito de formas limitadas e equivocadas. Não é sobre quem escreve melhor; é sobre a quantas versões da mesma história nossas filhas e nossos filhos terão acesso. É sobre possibilidades múltiplas, que não percam de vista as humanidades e que sejam validadas da mesma forma.

Sankofa: Se wo were fi na wo sankofa a yenkyi – Não é errado voltar atrás pelo que foi esquecido (imagem: divulgação)

É preciso entender a importância dos plurais ao falar de juventudes, periferias, pessoas negras. Pessoas. Dos lugares de onde viemos às conversas que antecederam a escrita dissemos muito. Mas, diante do cenário político que se estabelece, não temos dúvida de que precisaremos dizer ainda mais. E não só dizer. Quando olhamos outras versões de nossa história, encontramos pessoas que trabalharam por outras possibilidades de sociedade, desde a fundação deste país, como fizeram Zumbi, Beatriz Nascimento, Abdias Nascimento, Lélia Gonzalez, Conceição Evaristo e tantos outros. De fato, não existe nada de tão novo sob o nosso sol. Sigamos.

Para o porvir, pedimos força e esperança para seguir enxergando na palavra a oportunidade de ser portal. Sem esquecer que, mesmo após todas as tentativas de destruição pela raiz, ainda estamos aqui, propondo novos modelos mentais. Isso exige coragem. 

Vivos, potentes e criadores seguiremos. Que nunca nos falte força realizadora. Combinamos de não morrer. Axé.

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